18 junho, 2011

A gata da vizinha

Ainda me lembro. Lembro-me de chegar á entrada de casa, pedir á mãe que abrisse a porta, ir de joelhos ao chão porque me apetecia, atirar com a mochila para qualquer lado e partir alguma coisa, mas como era pequenina não fazia mal. Lembro-me de chegar a casa da tia, tentar ser bem comportada e falar baixo porque "meninos, silêncio que a gata da vizinha está doente!" - coitada da pobre gata - sentava-me á mesa, com dificuldade por ter de subir aquelas cadeiras tão altas, pegava nos meus talheres e gostava de beber em copo de pé alto porque me fazia sentir responsável, fazia-me sentir "como os grandes"; era sempre uma mesa com os melhores petiscos, não uma mesa farta mas repleta de iguarias - sim, a minha tia sempre foi um pouco austera, por assim dizer, mas uma mulher de coração bom.  Lembro-me de usar uma cadeira para chegar aos armários, lembro-me de cair sempre da cadeira; enfim, o mundo era mais divertido, mais simples, mas na altura só me apetecia crescer.
Que asneira. Do pouco cresci, percebi que o meu mundo continua a ser o mesmo, mas o tempo trouxe a responsabilidade, trouxe feridas e muitas outras coisas menos boas. Percebi que a vizinha nem tinha gata.


1 comentário:

Joana disse...

linda foto (:


www.afiadordelapis.blogspot.com