Sempre me disseram que os finais são para acabar - errado. O nosso final foi apressado, custoso, um final diferente que me impuseste, um final inacabado porque tu ficaste dentro de mim e eu ingénuamente nunca te consegui fazer sair. Nunca te pus um fim, nunca nos pus um fim.
Custou, mas houve alturas em que consegui, consegui apagar-te do pensamento, mas não da memória. O erro foi pensar que te esqueci - já não me lembrava, o que é bem diferente. Tinha-te sempre, ocupavas a parcela do meu coração que guardava as melhores recordações. Era á noite que o passado voltava, que voltavas para mim; vinhas ter comigo e continuavamos o que sempre fomos, sem finais, sem reticências, num sonho, num desejo, porque afinal saíste do espaço-tempo, da minha vida, mas não saíste da minha alma, só entraste nos momentos em que não te tive.
Conscientemente eu não te quería, eras passado e concentrava-me no presente, naqueles que eu queria que fossem o meu futuro. Todos esses.. entraram e sairam, só mascaravam a tua falta, iludiam-me, mas eu sabía que era inteiramente tua. Talvéz por isso, depois de tanto tempo, nunca deixei ninguém entrar e preencher o lugar que era teu por direito.
Imprimia-te em letras que organizava como a canção que te trás para mim, a canção que me diz "estou aqui sem ti, mas ainda estás na minha mente sozinha", letras sem ti, letras sem melodia. Carimbava traços uns atrás dos outros, formavam o teu olhar que á tantos dias eu não via.
Um dia chegaste. Abraçamo-nos e a saudade foi-se embora por uns instantes, porque tu finalmente estavas comigo. Ai, aí o mundo parou. Estavamos no nosso lugar comum e eu perdida no teu cabelo nem dava conta das horas que corriam. Ao tempo que eu não te via! Enfim, vivíamos vidas separadas, distantes, foi o suficiente para recordar a nossa amizade. Amizade, só? os teus olhos ainda falavam comigo da mesma maneira. Por culpa do destino, desse nosso final inacabado, ficamos por ali. Tu partiste e eu fiquei, como sempre.
Chegou-me, comecei a escutar o coração e percebi que esses encontros nocturnos que tinha quando as estrelas já se viam eram mais do que ternura ou saudades, eram notas que a minha mente me punha na almofada todos os dias para eu me lembrar de ti.
Veio o dia do outra vez, outra vez tua. "Voltas para mim?" E agora? será que valia a pena? Fazer tudo de novo para mais tarde ou mais cedo acabar, e se cometemos os mesmos erros? Porquê agora? No fim de contas não seria mais uma das tuas indecisões? Caíu como uma bomba, e tinha medo, muito medo desta proposta (ir)recusável.. A paixão é mesmo assim, avanços, recuos, é dançar entre as dúvidas e as decisões. Não me ía a arriscar arrepender-me, preferi apostar em ti. "Sim."
É agora, a nossa segunda oportunidade e por tudo já valeu a pena.
E esta não é a minha carta de amor, é a minha carta com amor.